Alerta global: Tempo de tela X Tempo de página de papel
- Paulo Rosa

- 21 de set. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de set. de 2023
Os dilemas e polêmicas que envolvem o mundo digital na infância

Um assunto vem despertando polêmicas entre estudiosos da Educação e das Ciências Naturais e Tecnológicas: o tempo de tela para as crianças e jovens. Muitos profissionais de Gestão Escolar podem fugir deste assunto, pois, sim, ele é árido e divide pensamentos frente às demandas do século XXI. Como alinhar e equilibrar, por exemplo, a realidade digital do mundo do trabalho com as Inteligências Artificiais e a recomendação feita pela UNESCO, instituição que apontou um alerta global indicando que as conexões não substituem as interações humanas e que há jovens com danos psicológicos graves? Principalmente, em casos nos quais adolescentes elegem uma pessoa “conversante” e nunca trocam pessoalmente – não havendo conversa para além das telas e aplicativos de mensagens. Assim, um abismo de identidade e de projeções psiconeurais ocorrem nesta espécie de “pré-relação”, imposta pela tecnologia e mundo digital de algoritmos.
O documento com mais de 420 páginas de estudos qualitativos e quantitativos aponta que, em 20 anos, não se comprovou que a tecnologia sozinha eleve e consolide altos e duradouros índices de educação e/ou estabilidade emocional. Ao contrário, a dispersão entre crianças e jovens que usam excessivamente smartphones e tabletes, cresce vertiginosamente. O maior problema está em “como utilizar” o mundo digital; devemos entender que ele está sob nosso domínio e não ao contrário.
Além dos riscos ligados ao ensino-aprendizagem e à alfabetização e letramento, o ambiente virtual suscita o aparecimento de cyberbullying, por exemplo. Como combater isso? Exercitando, diariamente, o pensamento crítico, a leitura física de livros e o diálogo entre familiares, colegas e amigos. Virar esta chave mental é essencial no mundo de 2023, no qual a Inteligência Artificial já é uma realidade entre nós. Precisamos equilibrar os pratinhos para compreendermos melhor o uso dos aplicativos e sabermos usá-los a partir de “nossa bagagem cultural” e de repertórios diversos, os quais são semeados por vivências intensas, presenciais e que convidam o ser-humano a lidar com a artesania de si mesmo.
A leitura, por exemplo, é um eficaz hábito no combate às ansiedades e demais transtornos. Reunir-se com amigos, ensinar, aprender coisas novas, ouvir e ser ouvido, são joias raras do convívio humano; atos que não possuem a mesma velocidade que o deslizar de um dedo sobre uma tela iluminada. Por isso, é necessário reaprendermos a velocidade da caminhada. Porque a vida real/presencial exige outro ritmo. E é ela que define a qualidade da vida digital. Isso tudo a gente vai semeando, como responsáveis legais e/ou profissionais de educação e saúde, desde cedo, na primeira infância.
Especialmente a partir dos anos 2000, vimos a linguagem digital tomando conta das relações sociais especialmente nos grandes centros urbanos brasileiros e ao redor do mundo, em grande parte no Ocidente. Apesar de todo o apelo midiático pelo mergulho no digital, muitos brasileiros seguem à margem desta realidade, pois há uma linha divisória vinda das diferentes e desiguais realidades econômicas nacionais. Uma internet boa custa caro, e é um compromisso mensal. Dados móveis, idem.
A sensação de que o mundo digital vai preencher os vazios é tentadora, mas é apenas uma cilada comercial e que flerta muito com o ideário consumista e utilitarista de compreensão da vida. Fecharei esta coluna de hoje dando algumas dicas de filmes e livros que podem ajudar a você, querido leitor e querida leitora, a repensarem as maneiras pelas quais lidam com o mundo digital e presencial. Eles não precisam brigar dentro de vocês, mas sim encontrar um equilíbrio socioemocional que vai melhorar sua trajetória.
Livros:
“Onde aterrar? – como se orientar politicamente no antropoceno”, do autor Bruno Latour
“ O Cidadão de Papel” , dos autores Gilberto Dimenstein e Pasquale Cipro Neto
Filmes:
“Os boas-vidas”, de Federico Fellini (disponível de graça no Youtube) - https://www.youtube.com/watch?v=f3rHa9Wxikg
“Quando a Chuva Vem?” (disponível de graça no Youtube), animação do Jefferson Batista. - https://www.youtube.com/watch?v=IwWJ6vk42oI&t=430s
Sugestão de mapeamento para leitura de livros físicos (qualquer um)
No horário e dia da semana que conseguir, coloque seu celular em alarme para 120 min e deixe-o no silencioso bem longe de você. Escolha um livro sobre o qual tem curiosidade de conhecer a história e vá lendo devagar dentro daquelas duas horas. Faça isso toda semana, aos poucos. Em pouco tempo, este bom hábito se tornará comum e você terá lido todos os livros de sua estante, compreendendo e realizando outras conexões neurais benéficas ao seu cérebro. Essa atitude vai reverberar lá fora, no seu cotidiano com as pessoas.





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